O presente trabalho tem por objetivo apresentar algumas reflexões da dissertação de mestrado em andamento sobre as interações entre os movimentos feministas e o Governo do Estado do Espírito Santo na produção de políticas públicas para as mulheres, visando compreender como ocorreu este processo de interação socioestatal, sua configuração e dinâmicas, no período de 2003 a 2016. Os pressupostos de análise baseiam-se em estudos brasileiros que demonstram que os movimentos sociais desenvolvem relações complexas e diversificadas com o Estado, em vez de constituírem modelos puros, coerentes e estáveis, muitos combinam dimensões multifacetadas da ação coletiva, efetuando assim múltiplas possibilidades de interação. Tomamos este desafio de contribuir com a teoria dos movimentos sociais e a teoria feminista em desnudar este campo de relações entre sociedade civil e Estado, especialmente sobre as interações socioestatais no contexto brasileiro pós 2000. A análise preliminar aponta mudanças no repertório de ação e de interação do movimento feminista capixaba, o qual variou de uma situação de oposição ou mesmo de indiferença, para a busca de uma relação direta voltada à incidência na política pública setorial, através da atuação nos espaços estatais seja pela via
partidária, seja das instituições participativas, seja da ocupação de cargos na burocracia. Os dados foram levantados por meio de entrevistas em profundidade realizadas com ativistas feministas atuantes nas organizações do movimento e na burocracia estatal, aos quais serão associados um conjunto de dados documentais coletados ao longo da pesquisa.